quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Oração da Maçaneta

Não há mais bela música que o ruido da maçaneta da porta quando meu filho volta para casa.
Volta da rua, da vasta noite,da madrugada de estranhas vozes,e o ruido da maçanetae o gemer do trinco,o bater da porta que novamente se fecha,o tilintar inconfundível do molho de chaves
são um doce acalanto,uma suave cantiga de ninar.
Só assim fecho os olhos,posso afinal dormir e descansar.Oh! a longa espera,a negra ausência,as histórias de acidentes e assaltos que só a noite como ninguém sabe contar!
Oh! os presságios e os pesadelos,o eco dos passos nas calçadas,a voz dos bêbados na rua e o longo apito do guarda medindo a madrugada,e os cães uivando na distância e o grito lancinante da ambulância!
Autoria: Gióia Junior
E o coração descompassado a pressentir e a martelar na arritmia do relógio do meu quarto esquadrinhando a noite e seus mistérios.
Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno.E sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.
-Oh! os címbalos do trinco e os clarins da porta que se escancara e os guizos das muitas chaves que se abraçam e o festival dos passos que ganham a escada!Nem as vozes da orquestra e o tilintar de copos e a mansa canção da chuva no telhado podem sequer se comparar ao som da maçaneta que sorri quando meu filho volta.
Que ele retorne sempre são e salvo,marinheiro depois da tempestade a sorrir e a cantar.E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno que soa para mim como suave cantiga de ninar.
Só assim, só assim meu coração se aquieta,posso afinal dormir e descansar.

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